Um texto meu, publicado tempos atrás n’O Carapuceiro (link ao lado)…
Manhã lotada. Agenda mental. É um rapaz muito bagunçado para controlar sua vida em folhas de papel reunidas sob uma brochura.
Ônibus lotado. O rotineiro percurso de ida ao trabalho. Nas mãos, apenas um livro de contos eróticos, sem figuras, por respeito a outros passageiros.
Ruas lotadas. Trânsito lento. Numa esquina, o ônibus para, atrapalhando a entrada de um carro dirigido por uma mulher. Ninguém dá atenção ao fato, nem mesmo ele.
Mente lotada. Pensamentos maliciosos. Não que seja tarado, mas não consegue repreender uma ereção que tem, de repente, a certa altura, e que iria se manter ainda por um bom período.
Um ponto mais, uma velhinha sobe.
Ônibus lotado; ninguém cede o lugar. Ele, sentado numa das cadeiras reservadas a idosos, gestantes e deficientes físicos. O conto, próximo do fim, dois parágrafos apenas. Precisa refrear a ereção, ou fazer uma manobra, um malabarismo a fim de que ninguém a perceba. Resolve tentar a manobra.
Chama a velhinha e, fechando o livro, convida-a a sentar-se no lugar que ocupava.
Ônibus lotado. Sem querer, esfrega de leve o pau na bunda da velhinha. Ela dá uma risada e agradece.
Ele, faces coradas, crê que ela agradeça pelo lugar. Ela, viúva, ri, contente da vida, por sentir aquele membro vigoroso, ainda que por cima das vestes e num lugar público e lotado, tocar-lhe, leve e docemente por trás.
Ele, alguns pontos adiante, salta, sem ter conseguido outro lugar para sentar e tentar continuar a leitura; ela o vê pela janela, caminhando a passos rápidos, atrasado como sempre, indo trabalhar.