Abaixo, um trecho de “Paisagem Feita de Tempo”, livro de Joãozinho Ribeiro, a ser lançado em breve:
(…)
cidade que até hoje não compreendo
quando embarca meus olhos
nas luzes da madrugada
pela barragem do Bacanga,
Sá Viana, Anjo da Guarda
até deparar com as garras
dos tratores sangrando a terra
para o futuro banquete
de vampiros capitalistas
porque a madrugada está na Cidade
e a Cidade também está nela
se espreguiçando
nas bancas do Mercado Central
nos quiosques do Portinho
assumindo sua própria forma e cor
na madrugada se engalfinham
os últimos suspiros da noite
com a vontade de ser do dia
verdureiros da Maioba
meninos sonolentos
tudo se transformando
num crescendo irreversível
que desemboca na manhã
com a abertura das escolas e feiras
manhã necessária
para a movimentação do calendário
das pernas, das rodas,
da cidade e do povo;
para internar as pessoas
nos seus difusos ofícios
e produzir novos valores
com o fruto de seus trabalhos
(…)