[Antes, um aviso: isso não é jornalismo. É apenas um desabafo de quem compra esta briga e endossa este manifesto]
Há mais de três anos, dois acontecimentos culturais legitimados pelo povo acontecem semanalmente (e por que não dizer religiosamente) na Praia Grande, movidos apenas pela paixão de quem os faz e seu compromisso com a arte e a cultura popular: A Vida é uma Festa!, show musical, poético e performático capitaneado pelo multiartista Zé Maria Medeiros, sempre às quintas-feiras, e o Tambor de Crioula da Feira da Praia Grande, organizado pelos feirantes da antiga Casa das Tulhas, às sextas.
[Vejam bem, eu disse três anos, não três semanas ou três meses. Quem é que estava na administração municipal? Pois é, continua o mesmo! Seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo! Pois ele (ora, vocês sabem de quem estou falando!), se não é o mesmo, fica pior a cada dia que passa.]
Há algumas semanas, numa visível atitude antidemocrática e inconstitucional, o espetáculo das quintas-feiras vem sendo ameaçado por fiscais da SEMTHURB, “cumprindo ordens de um certo Cel. Alcino”, secretário-adjunto do órgão.
Pois bem, caros amigos e leitores: a Cia. Circense de Teatro de Bonecos está devidamente regularizada, tanto do ponto de vista jurídico quanto fiscal. Os que acompanham as duas manifestações aqui citadas mais de perto sabem que, ao término do “tambor na feira”, o grupo sai para dançar em frente à Cia. Circense. Gente, isso é legítimo, o povo vai, o povo vê, o povo participa. É tradição, porque não dizer?
A gota d’água (parte um): o coronelzinho tentou proibir a realização do show de Zé Maria (e cia. ilimitada); não conseguiu, pois sua licença está em dia. Daí proibiu a realização da apresentação do tambor fora da feira (que todos sabem, também, tem hora pra fechar); eles sem autorização tiveram que deixar de realizar a tradicional (repito, tradicional!) apresentação. Agora eu pergunto: por que diabos há a necessidade de (e desde quando?) autorizações para manifestações artísticas naquela área da Praia Grande? “Obstrução da via pública”, dizem os “coronelistas” de plantão. Ora, todos sabemos que por ali não passam automóveis e nunca um pedestre teve sua passagem obstruída. Eu, por exemplo, já atravessei aquela rua quando o(s) show(s) estava(m) acontecendo. E do outro lado, bares “obstruem” a via pública com mesas e cadeiras. Engraçado, não? Contraditório, não?
A gota d’água (parte dois): A Cia. Circense (devidamente regularizada, como já dito aqui) foi pedir ao órgão (ir)responsável, autorização para que o grupo de tambor-de-crioula continuasse a fazer as apresentações ali, ao sair da feira. (Gente, que mal há em se dançar ou tocar uma guitarra ou um saxofone na porta de casa?) A resposta do “coronelzinho”: “Ah! não, aí já é demais… eu já te dei autorização, agora tu queres para o tambor? Pois a tua licença termina em julho, e por isso, eu não vou renová-la” (dirigida à Zé Maria Medeiros).
[Ontem, durante o debate “Liberdade de Pensamento e Expressão Artística”, dentro do ciclo Diálogos Interculturais, organizado pelo Fórum Cultura Cidadã, nem o apagão calou a boca dos que querem discutir para onde a atual gestão municipal está levando a cidade, principalmente no que diz respeito às questões culturais; nem o blecaute nos tirou a liberdade. Só não consigo imaginar que isso tenha sido armação para nos silenciar por ter sabido depois que a cidade toda ficou no escuro. E antes que acusem-me de levantar um falso: do jeito que anda a carruagem, isso não é nada difícil]
Hoje será lido um manifesto durante A Vida é uma Festa! Um manifesto a favor da liberdade. Mas antes de tudo, um manifesto a favor da arte. Vamos lá dizer sim à liberdade e à arte. E dizer não a quem quer nos prender, como nos versos de Cesar Teixeira. Se estamos descontentes, vamos mostrar os dentes. Mas com sorrisos, em vez de mordidas (isso é pra os do outro lado!). Podem vir armados: nós estamos com flores, palavras e notas musicais. Até os dentes!
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