[Diário Cultural de hoje]
“O escrever rock (que não é simplesmente escrever sobre rock)”, do prefácio de “Reações Psicóticas”. Era isso que Lester Bangs fazia. E é isso que faz a coleção “iê iê iê”, da Conrad Editora: “apresenta aos leitores brasileiros a obra de grandes críticos musicais do mundo todo. Rock and roll como literatura e literatura como rock and roll”, conforme a orelha da obra – comprovada/aprovada pela coluna. (O título acima foi tirado do texto “Vamos Agora Louvar os Famosos Duendes da Morte”, onde se lê: “É por isso que Lou Reed era necessário”, p. 79).

“Mas, ao mesmo tempo, todas as pessoas que conheço estão completamente alienadas, de saco cheio, enojadas com tudo, e sei que boa parte daqueles que trabalham na mídia e nos impingem essas coisas está tão alienada quanto o público. O público compra só porque não lhe é oferecida outra coisa. E, pessoalmente, eu me pergunto quando as pessoas vão começar a dizer: ‘Não! Eu me recuso, não quero mais isso!’” (Lester Bangs, entrevista ao News Blimp, 1980, citado no prefácio de “Reações Psicóticas”).
É claro que o contexto era outro e que o jornalista ianque se referia a outra(s) coisa(s), mas daqui, digo a(s) mesma(s) coisa(s) sobre a audição incansável e ad infinitum que se faz do pseudoforró cearense (leia-se geração “pós-mastruz-com-leite”), do calipso paraense e do pseudofunk, o pancadão carioca. E pergunto-me ainda: o que diria Lester se vivo fosse e ouvisse isso? (É verdade: não sei qual era a relação dele com música brasileira; nem sei se existia, para ser sincero).
Não, a coluna não está se repetindo. Não estamos aqui para falar (mais uma vez) do pré-carnaval madredivino, conforme fizemos na última terça-feira (“O Pancadão Madredivino”, Diário Cultural de 10/1/2006), embora saibamos que o espetáculo funkeiro se repetiu. E não é que o assunto não mereça atenção: um espernear até se faz necessário, mas a pauta é outra.
Reações Psicóticas
Saiu pela Conrad Editora, Reações Psicóticas (R$ 19,90, em média), coletânea de textos do polêmico, drogado, alcoólatra e ex-testemunha de Jeová (de onde ele dizia vir a vocação para querer que as pessoas gostassem da mesma coisa que ele) – entre outras “qualidades” – Lester Bangs (1948 – 1982), um dos mais importantes críticos de música do planeta em todos os tempos – não é exagero: alguns chegam a afirmar que ele foi o maior escritor dos Estados Unidos da segunda metade do século vinte, embora tenha escrito “apenas” análises de discos.
No volume, textos publicados entre 1972 e 1980, em diversos veículos: Creem, Los Angeles Times, Village Voice, por onde passeiam várias personagens: The Guess Who, John Lennon, Elvis Presley, Iggy Pop, Jethro Tull e Van Morrison, entre outros. Lester escreveu também para a Rolling Stone e para o New Musical Express (NME). “Reações Psicóticas” é coletânea da coletânea: trata-se de uma seleção de artigos tirada de “Psychotic Reactions and Carburetor Dung”, organizada por Greil Marcus em 1987. Mas isso não tira o brilho da obra, que integra a coleção “iê iê iê”, da Conrad.
Gonzo, Serviço
Lester Bangs era um autêntico representante do “jornalismo gonzo”, gênero “inventado” por Hunter S. Thompson. No Brasil, o único “remanescente da gonzolândia” é o repórter “excepcional” da revista Trip, Arthur Veríssimo. Ótimas referências para os novos que querem/queiram se aventurar nessas trilhas/faixas tortuosas. Mas Bangs – que faleceu vítima de overdose de medicamentos, quando tentava se livrar do alcoolismo – não cansou de avisar: “não imitem a mim”.
Para ler mais sobre Reações Psicóticas: no blogue de Reuben.
Para comprar Reações Psicóticas: (11) 3346-6088, (11) 3346-6078 e/ou no site da Conrad Editora.