Perturbador é um bom adjetivo para definir As 10 coisas que meu pai deveria ter ouvido antes de ir para a guerra, de Ivy Faladeli (texto, concepção e direção) que vi ontem na Sala Drao (Rua do Ribeirão, 259, Centro), o ingresso, apenas um real por cada coisa que o pai deveria ter ouvido antes de ir para a guerra.
Três homens (André Dahmas, Felipe Correa e João Cosme) interpretam três mulheres e suas existências beiram o absurdo, embora saibamos que, apesar de tratar-se de obra de ficção, é bem possível que as personagens tenham existido num dos cenários de horror de qualquer guerra, em qualquer tempo, em qualquer lugar do mundo.
Apesar de homens interpretarem personagens femininas, não há ali espaço para piada ou galhofa. Há um drama profundo, com as deficiências de Marie e Merlin, as filhas, levando-nos a refletir sobre as deficiências humanas – elas próprias, as meninas com deficiência, frutos dessa insanidade (humana, demasiado humana) que é qualquer guerra.
Há castigos, tortura, loucura, mas há também doçura, por trás dessa casca grossa, sempre sobra uma ponta de carinho no coração de uma mãe – mesmo que lide sozinha com as maiores dificuldades, além de saudades e incertezas.
A última sessão de As 10 coisas que meu pai deveria ter ouvido antes de ir para a guerra acontece hoje, às 19h, na sala Drao.
Deve ter sido um espetáculo e tanto. Não se ver esse tipo de cultura todos os dias em nossa capital