Carlo Kadish, protagonista de Eu, cowboy [Editora Oito e meio, 2015, 165 p.] e alter ego de seu autor, Caco Ishak, é um loser de nascença, um antibeat, um beat brasileiro.
O livro narra suas venturas e desventuras, regadas a bastante sexo, álcool, ritalina, citações literárias, cinematográficas, musicais e uma grande incapacidade em lidar com relacionamentos – inclusive sua filha, a quem o livro acaba por render uma bela e comovente homenagem em meio ao caos do submundo que é sua geografia.
Um viajante que não sai do lugar, uma ida ao México que nunca se concretiza, lembranças da infância, brigas, a prosa de tirar o fôlego do leitor, o autor um poeta com dois livros publicados – Dos versos fandangos ou a má reputação de um estulto em polvorosa (2006) e Não precisa dizer eu também (2013), ambos pela 7Letras –, este romance curto sua estreia na ficção.
Ecos de Bukowski, quarta capa de Mário Bortolotto e Sérgio Rodrigues, generosa orelha de Marcelino Freire, que “o homem, que, nesta terra miserável,/ mora entre feras, sente inevitável/ necessidade de também ser fera” (Augusto dos Anjos).
Falar em maldição é facilitar as coisas. “Meu hype quero todo em dinheiro”, diz a certa altura, num destes petardos dispostos aqui e ali, ao longo do texto, que te ficam martelando a cabeça, zunindo entre os ouvidos.
Uma dessas, “as primeiras lápides com #hashtags”, o jornalista Jotabê Medeiros usou de título num texto seu sobre o Bar do Léo: foi durante a Feira do Livro de São Luís, ano passado, de que ele e Caco Ishak participaram e onde se conheceram. A frase foi dita lá, o poeta-romancista nos brindando com uma avant-première do livro que hora nos chega às mãos.
Hoje ele lança Eu, cowboy no Chico Discos (Rua Treze de Maio, 289-A, altos, esquina com Afogados, Centro), às 19h30, com entrada franca. A noite de autógrafos será embalada pela discotecagem do Vinil Social Clube.
“Sempre me senti forasteiro. Aprendi a me comportar como um. A me safar como um. Nem sotaque eu tinha. Mais fácil pra mim”, afirma, logo na primeira página. Goiano radicado em Belém desde os cinco, na sequência do lançamento ele já embarca de volta ao exílio “em seu apartamento”.
Um comentário sobre “Caco Ishak sem gelo”