
As perguntas [Companhia das Letras, 2017, 177 p.; R$ 39,90; leia um trecho], novo romance do gaúcho Antônio Xerxenesky, é um thriller psicológico recheado de referências ao cinema, literatura, música e ocultismo. Tem ares de romance policial, por conta do envolvimento de sua protagonista, Alina, graduada em História com mestrado em religião comparada que, afinal de contas, ganha a vida como editora de vídeos em uma agência de publicidade e, no desenrolar da trama, acaba dando uma de detetive particular, tentando dar algum sentido à sua vida besta, mas que acabará pondo à prova suas convicções. “Não era você a descrente? A acadêmica?”, pergunta-lhe, com ironia, a certa altura, o magíster da estranha seita que se propõe a investigar.
O livro praticamente se passa entre o amanhecer de um dia e outro, com uma pequena lembrança de alguns anos atrás, quando eventos sobrenaturais começaram a assaltar a menina Alina, o que voltaria a acontecer após ela se envolver na aventura que se desenvolve em As perguntas. As referências de Xerxenesky não são gratuitas: ajudam a dar verossimilhança à trama, algumas dialogando diretamente com seu desenrolar. Não à toa a epígrafe, do cineasta sueco Ingmar Bergman.
A paranoia desenvolvida pela protagonista é acompanhada pelos leitores, em ritmo frenético. Impossível fugir do clichê e dizer que As perguntas é um livro cinematográfico, uma espécie de roteiro que está apenas aguardando algum/a diretor/a levá-lo à telona, inclusive nas descrições, por vezes irônica, das paisagens paulistanas. Da mesma escola de Sérgio Sant’Anna, mestre absoluto noutro gênero, o conto, o autor também foi residente do International Writing Program da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos.
Xerxenesky é daqueles que exigem dos leitores para além do óbvio: certamente alguns poderão reclamar que o livro termina sem fechar alguns pontos – o que é feito da delegada e da ação da polícia, por exemplo? –, e aí reside um trunfo: ler é um exercício de imaginação (ainda mais num livro cheio de sombras) para além do que está escrito. Dizer mais sem (mais) spoilers é impossível.